28/07/2010 11:24

Felipe Massa: mudança de discurso com o tempo

Postura do brasileiro após o GP da Alemanha é contrária às opiniões dele ao longo da carreira

Nem é preciso procurar muito para perceber que a imagem de Felipe Massa para o torcedor brasileiro ficou inteiramente manchada após o episódio do último domingo, quando ele cedeu a liderança do GP da Alemanha a Fernando Alonso por ordem da Ferrari. Nos dias seguintes, a Internet foi inundada por brincadeiras e críticas referentes à sua subserviência, como o quadro que o coloca como “funcionário do mês” em Maranello.

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A dimensão da decepção da torcida é facilmente explicada pela imagem que o piloto construiu ao longo de sua carreira: a do eterno lutador, para quem os valores do esporte sempre ficaram acima da vitória a qualquer preço. A grandiosidade que demonstrou ao perder o título de 2008 na última curva da última corrida, diante dos fãs brasileiros, ficou como o maior símbolo disso.

Mas teve mais. Em 2002, seu ano de estreia na F-1, Massa recebeu e executou uma ordem do então chefe Peter Sauber, coincidentemente, em Hockenheim. Ele havia largado bem e passado o companheiro Nick Heidfeld, mas foi lhe solicitado que abrisse para o alemão atacarumadversário à frente deles. Heidfeld ficou em sexto logo à frente de Massa, que reclamou a não-devolução da posição.

Massa também atacou duramente a antidesportividade no escândalo de Cingapura em 2008, quando Nelsinho Piquet bateu de propósito para que Fernando Alonso vencesse. Chegou até a pleitear que o GP fosse anulada porque a armação caracterizava uma manipulação de resultado – Massa era o líder destacado e, na entrada do safety car, houve o famoso problema da mangueira nos boxes.

Ao executar as ordens dos superiores da organização para a qual trabalha, Massa pode ter mostrado seu lado profissional, como exaltou nas entrevistas pós-GP. Mas contradisse completamente os valores que acreditava e com isso, fez com que seus fãs se sentissem traídos.

Declarações de Massa ao longo de sua carreira:

Eu entendo que tive de deixar o Nick passar, mas não sei porque ele não devolveu a posição mais tarde. Teria sido justo porque este ponto pertencia a mim”. 28/7/2002, quando o chefe Peter Sauber ordenou uma troca de posição no início da prova para que Heidfeld atacasse um adversário e Massa consentiu. No final, terminou em sétimo, atrás do companheiro.

 

Todo mundo sabe o que aconteceu em 2008. Não acho que vale a pena voltar a todos aqueles problemas, temos de olhar para frente. Espero que estas coisas não aconteçam mais. Para o bem do esporte, não só pelo lado comercial”, 15/1/2010, falando sobre Cingapura 2008

Se existe algo que não é correto no esporte, que foi feito contra as regras, não vejo nenhum problema em mudar o resultado. Não teria sido bom para a categoria como um todo, mas as coisas tem que acontecer dentro das regras”, 15/1/2010, sobre se achava se o resultado de Cingapura-2008 deveria ser anulado depois do que aconteceu.

Enquanto eu ainda tiver chances matemáticas, vou acreditar que posso conquistar o título. As coisas podem mudar rapidamente em duas corridas”, 23/6/2010, sobre suas chances de brigar pelo título.

Se existisse uma cláusula como essa e eu seria o primeiro a não assinar e mudaria de equipe. Não existe cláusula. Eu sou um piloto que não aceitaria isso nunca” 24/6/2010, sobre uma eventual cláusula de seu novo contrato que o obrigaria a assumir o papel de escudeiro de Alonso.

Lógico que para você ser primeiro tem que brigar pelo campeonato, e não é isso que está acontecendo. Então a gente tem um pensamento interno, como todos que trabalham numa empresa”, em 25/7/2010, após abrir para Alonso em Hockenheim.

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